A criação e atuação do Núcleo de Conservação
e da Equipe de Resgate de Acervos do Museu Nacional

Um incêndio, pelo impacto extremo que impõe aos materiais, exige uma convergência de saberes científicos e um campo de diálogo entre as diversas disciplinas e profissionais que trabalham na área da Conservação e da Restauração. 

Cada vez mais, a integração entre as equipes interdisciplinares se faz necessária no âmbito dos trabalhos de preservação do patrimônio, fortalecido por meio da colaboração entre conservadores-restauradores,arqueólogos e curadores. 

Neste panorama, o Núcleo de Conservação do Resgate se consolidou, ao longo do ano de 2021, realizando o resgate de objetos do acervo do Museu Nacional que restaram após o incêndio de 2018.

O Núcleo de Resgate de Acervos do Museu Nacional tem por objetivo apoiar e dar suporte técnico às ações de conservação, restauração e divulgação dos trabalhos de conservação do acervo composto pelas diversas coleções.

As atividades realizadas pelo Núcleo foram executadas em 04 laboratórios, divididos por tipologias de material (cerâmico, vidro, lítico, metal, papel e têxtil) respeitando os procedimentos e normas da Conservação: Laboratório A: materiais arqueológicos; Laboratório B: materiais em metal; Laboratório C: materiais têxteis, materiais fossilíferos e geológicos; e Laboratório Central: materiais em papel e demais materiais resgatados. 

O Núcleo de Resgate de Acervos do Museu Nacional também conta como apoio de uma sala de preparação dos remanescentes resgatados dos afrescos de Pompéia e uma sala para a reserva técnica para as demais coleções.

Foram tratados itens das coleções Imperatriz Teresa Cristina, Pré-Colombiana, Arqueologia Brasileira, Egípcia, Metais da Etnologia e metais dos bens integrados; Tecidos Pré-Colombianos e têxteis e adereços do Setor de Etnologia e Negativos em Vidro do SEMEAR, Moedas e medalhas históricas do Museu Nacional e Instrumentos Científicos da Antropologia Biológica, além de outros documentos em papel.

Metodologia de Trabalho

As ações de conservação empreendidas para o material resgatado pós-incêndio do Museu Nacional se basearam nos princípios da intervenção mínima e estabilização. Foi elaborado um Protocolo de Procedimentos e uma Ficha de Conservação, para definir a abordagem de trabalho inicial para cada tipo de material.

 A ideia central foi conhecer o grau de fragilidade dos materiais provenientes do resgate e definir os procedimentos de conservação antes do planejamento dos procedimentos para as intervenções.

Protocolo de Procedimentos

O Protocolo de Procedimentos estabeleceu, a priori, as seguintes ações:

  • Preenchimento da Ficha de Conservação;
  • Registro fotográfico inicial;
  • Higienização mecânica à seco;
  • Registro fotográfico após a higienização;
  • Acondicionamento em sacos de polietileno de baixa densidade – PEBD com fechamento hermético, com mantas de polietileno expandido (Ethafoam);
  • Higienização e distribuição em caixas contentoras em polietileno de alta densidade;
  • Controle do microambiente por sílica-gel (desumidificante);
  • Transporte para a Reserva Técnica (em containers).

Atividades desenvolvidas pelo Núcleo de Conservação do Resgate de Acervos do Museu Nacional

O Núcleo de Conservação do Resgate de Acervos desenvolve atividades relacionadas a preparação de Laudos Técnicos e acondicionamento de peças das coleções para exposições temporárias e coletivas de imprensa. São desenvolvidas também apresentações de trabalhos científicos para participações em congressos e seminários científicos, com o objetivo de divulgar os trabalhos desenvolvidos com as coleções resgatadas.

Foram realizados, no espaço do Laboratório A, o acolhimento de discentes para cumprimento de atividade complementar e estágio curricular obrigatório para o Cursos de Graduação em Arqueologia da UERJ e para o Curso de Conservação-Restauração da EBA/UFRJ, orientados pela equipe do Núcleo de Conservação e participação do processo de tratamento inicial do acervo de objetos cerâmicos encontrados durante o resgate.

Vale ressaltar que os laboratórios fizeram parte do circuito de visitação para divulgação dos trabalhos para jornalistas nacionais e internacionais, delegações internacionais de diferentes países como Itália, Inglaterra, Alemanha, entre outros.

Outra atividade técnico-científica realizada pelo Núcleo de Conservação foi a elaboração de uma Carta de Intenções e o encaminhamento das tratativas para firmar parceria entre o Museu Nacional e o Centro Conservazione e Restauro La Venaria Reale – CCR (Turim, Itália), participando do Projeto Restituizione, com o intuito de promover a restauração do afresco de Pompéia “Dragão Marinho e dois Golfinhos” resgatado.

(INSERIR IMAGEM DELE RESGATADO). 

Nesta parceria, foi realizado um curso online de aprimoramento profissional de parte da equipe do Museu Nacional e conservadores de outras instituições nacionais. Durante o treinamento foram promovidas ações emergenciais para acondicionamento e preparação de embalagens dos fragmentos do afresco de Pompéia. 

Com o propósito de garantir a estabilização das coleções a longo prazo, uma das ações necessárias é o estudo e monitoramento climático das áreas de guarda do acervo e das áreas expositivas.

É fundamental garantir a sobrevivência e estabilidade dos materiais, e assim, permitir o sucesso das ações e procedimentos técnicos de conservação propostos e/ou executados antes da sua guarda. Com esse objetivo, foi realizada a aquisição e implementação do sistema único e interativo das avaliações das condições ambientais em cada local de guarda.

Através deste tipo de sistema, todos os funcionários responsáveis pelas coleções, poderão ter acesso, através de smartphones pessoais, aos dados captados pelos instrumentos de medição e elaborados pelo software instalado. Desta forma, é possível promover a adequação, em colaboração com os técnicos responsáveis pelo sistema, dos parâmetros considerados prejudiciais ao acervo. 

A implementação do sistema de monitoramento climático, destaca a relevância das ações de conservação preventiva para a conservação do caráter científico e de inovação agregados ao valor patrimonial do acervo resgatado. Assim, com a aplicação das práticas, materiais e estudo dos resultados sistematizados, espera-se contribuir para o aprofundamento das análises quanto a pertinência e uso de materiais utilizados no processo de estabilização e acondicionamento dos objetos resgatados, visando aprofundar-seno cenário de conhecimentos mais amplo para este campo de atuação.

A Equipe Núcleo de Conservação do Resgate é composta por

  • Ana Luiza Castro do Amaral
  • Carlo Pagani
  • Cleide Martins
  • Mônica de Medina Coeli
  • Neuvânia Curty Ghetti.
  • Tarcísio Ferrarri Saramella

Com o apoio de

  • Angela Rabello
  • Mariana Duarte Ferreira